
ELA É LIVRE

Escrito por Isabela Martins
Ela sabia que deveria ser ela mesma e nada mais ou menos que isso. Sabia que não deveria mudar para se encaixar nas pessoas, nos lugares e em nada que diziam ser o padrão, pois ela não era massinha de modelar, era diamante bruto que só pode ser lapidado pelas ferramentas certas e mãos hábeis e experientes. Não é qualquer pessoa que pode lapidar um diamante , pois se não houver prática e experiência necessárias para tal serviço, a pessoa corre o risco de estragar a peça preciosa. Ela sabia que as ferramentas e mãos certas para a lapidarem era o amor, amor mais forte que a morte, mais intenso que o mar e tão certo quanto dia e a noite.
A questão é que ser ela era ser um turbilhão, um caos, uma confusão, um jogo de perguntas com respostas que se alternam, um enigma sem pistas. Ser ela era assumir sentimentos e emoções grandes e fortes demais para ficarem apenas dentro de si, alegria demasiada para caber num simples sorriso de canto, tristeza exorbitante para encaixar numa única lágrima, amor excessivo para não transbordar no olhar e por todos os poros. Ser ela era ser muito, muito e imenso para um mundo aparentemente tão pouco e pequeno. Era ser coração em brasas caminhando em meio a corações gélidos, qualquer esbarrão pode ferir. Era ser laranja vibrante num mundo preto no branco.
E para não se machucar tanto, para não ser tão fora da caixinha e se sentir o elefante na sala de estar, ela se reduziu. O problema é que notam - não falam, mas notam - quando você é capaz de se diminuir e cada vez mais vão exigindo que você diminua mais um pouquinho para que possa ser dominado, estão te moldando brutal e erroneamente. Se isso fere? Fere muito, mas pelo menos você se sente parte de algo, não se sente a incógnita da equação, o incomoda. Torna-se então o gomo de mexerica falsamente encaixado na cabeça de alho.
Mas a verdade é que mundo é grande, sim! É que o pintaram pequeno para a diminuir e a impedir de buscar livremente o seu lugar nele. Tal como pássaro que nasce num ninho pequeno, mas nasce com asas para tomar os céus por casa, assim é ela.
Quando ela finalmente entendeu que só deve se demorar onde tem amor e que o amor pode a mudar, mas ela jamais deve mudar para ser amada. Quando experimentou o voo livre, encantou-se por ele e viu então que a cor laranja faz parte do arco-íris e também do espetáculo do pôr do sol, largou todos os fardos que não eram seus, mas estavam lá sobre e dentro de si. Aceitou que jamais seria aquilo que tentou ser simplesmente porque não era. Abraçou com amor toda a confusão, o caos, o turbilhão que era. Admitiu as dores reprimidas, as chorou como nunca para deixá-las ir embora de uma vez por todas. Calou as vozes que gritavam mentiras, pois agora ela sabia reconhecer a voz da verdade, verdade que a fez livre!
Fez-se livre quando foi liberta pela verdade de que era amada! Amada pelo amor mais forte que a morte, mais intenso que o mar e tão certo quanto dia e noite. Amor que a lapidava e fazia dela alguém mais livre, mais plena, mais abundante.