
"CRESCER DÓI"

Escrito por Isabela Martins
"Crescer dói!", dizia minha mãe quando eu era criança e reclamava de dores nas pernas. Mães... Sempre tão sábias! Mas eu queria crescer, vivia com aquela conversa de "quando eu crescer", queria ser gente grande, como toda criança. Bom, eu já cresci, mas não sou e nem fiz metade das coisas que aquela menina de sete anos planejou. Ainda me sinto tão pequena quanto ela algumas vezes e me pergunto se um dia vou cumprir todos os planos e sonhos que ela magica e inocentemente imaginou naquela cabecinha. Aquela criança não conhecia metade da maldade e das dores que existem nesse mundo, o que a possibilitou de sonhar sonhos tão puros com meios tão simples de realizá-los. Isso me motiva a preservar um pouco de toda essa inocência que ela tinha dentro de si, para realizar seus sonhos e viver um pouco mais protegida das mazelas desse mundo cão.
Cresci, mas continuo crescendo, só que agora por dentro e esse crescimento dói muito mais. Agora tenho que ser gente grande nos sentimentos, nas emoções, no caráter, naquilo que faço e penso. Birras não são muito bem aceitas, chorar não soluciona problemas, ficar de bico não é mais engraçadinho e se jogar no chão não faz você ganhar as coisas. Esse crescimento exige boca fechada, ouvidos abertos, olhos atentos e percepção perspicaz. Ele traz lágrimas que devem ser derramadas no silêncio da noite e substituídas por um sorriso pela manhã. Nele as tempestade são todas internas (com as externas para intensificar) e só você pode lidar com seus turbilhões, ninguém mais o pode de forma eficaz.
Apesar de tudo isso, não há coisa melhor que crescer por dentro. É como construir um jardim só seu e você escolhe quais flores e árvores vai cultivar, onde vai plantá-las e de que forma vai organizá-las. É importante que você não compare a grama do seu jardim ou a frondosidade das suas árvores com as do vizinho. São processos diferentes, logo, são jardins diferentes também. E lembre-se que você é o único que conhece seu jardim, seu interior, as coisas que aprendeu, os erros que cometeu e os acertos também. Dos prazeres e das dores de ser você, só você sabe, por isso ninguém está apto para julgar quem tu és ou deixas de ser.
Hoje, depois de alguns tropeços, choros e dores, posso dizer que já cresci um pouco por dentro. Com lágrimas plantei as boas sementes dos frutos que mais tarde quero colher, com dores semeei as belas flores que enfeitarão meu jardim e mostrarão toda a perseverança e resiliência que tive.
Como mamãe disse, crescer, seja de que forma for, dói. Mas é inevitavelmente necessário e espetacularmente bom. Daí aprendemos que há bençãos até nas dores.