
CONVITE AO PERDÃO

Escrito por Isabela Martins
Querida, pare de ser tão dura com você mesma. Você foi capaz de perdoar quem te ofendeu, de pedir perdão as pessoas que você ofendeu e até mesmo aquelas que te ofenderam. Você dobrou os seus joelhos em meio a lágrimas, suplicando pelo perdão de Deus por ter feito escolhas erradas, por ter pecado e trilhado caminhos de destruição, e por que é tão rude consigo mesma? Por que não consegue pedir e liberar o mesmo perdão para si?
Minha cara, todos nós nos perdemos em algum momento da jornada, seja dentro de nós mesmos ou em nossas atitudes. Todos nós contrariamos nossas próprias verdades e até mesmo duvidamos delas. Não somos feitos apenas sol, temos nossas sombras também. Se você se atentar aos fenômenos naturais que acontecem a todo momento, vai entender um pouco da vida. Observe como em um único ano vivemos quatro estações diferentes. Há dias ensolarados e dias de tempestade. Dias em que as flores murcham, as folhas caem e o sol se intimida. Cada estação traz consigo necessidades diferentes e não se pode chegar em uma sem passar por outra, e também não pode fazer com que uma dure para sempre. Assim como o rio precisa fluir, as estações precisam mudar. Os ciclos precisam acontecer, com começo, meio e fim.
Você estava em uma estação em que precisava sobreviver e quando estamos no nosso modo de sobrevivência, fazemos muitas coisas das quais não nos orgulhamos, mas que, com a visão que temos da situação, são necessárias. Contrariamos nossas verdades e nos frustramos com nós mesmos, mudamos quem somos da água pro vinho, fazemos coisas que nos decepcionam e ficamos igual um cão ferido, rosnando e latindo para qualquer um que tente se aproximar. Não é valentia, é apenas uma forma de nos protegermos de mais feridas, uma forma de sobrevivência.
E agora, depois de pedir e liberar perdão a todos por tudo, das feridas terem sido curadas e serem apenas uma cicatriz, você ainda está tentando sobreviver. Não há mais uma guerra lá fora, você está lutando sozinha numa sala de espelhos, onde só existe um inimigo: você. Está lutando consigo mesma, com quem se tornou. Está frustrada e com raiva de quem se tornou e das coisas que abriu mão para sobreviver aos seus dias tenebrosos. Sente-se cansada por estar em uma batalha em que só você é a combatente e só você pode levantar a bandeira de paz.
Por saber de tudo isso - e sei que você também sabe -, eu te faço um convite ao perdão. Peça perdão por ter sido tão dura consigo mesma, por todas as coisas que se sujeitou, por todas as mentiras que se forçou a acreditar, por toda injustiça que cometeu contra si e por ter desrespeitado seus próprios limites. E também se perdoe por todas essas coisas, acolha-se e diga a si mesma que fez o melhor que pôde, até mesmo quando errou cruelmente consigo mesma. Diga que se esforçou, mas que suas dores embaçaram sua visão e endureceram seu coração, levando-te a cometer mais erros que acertos. Dê isso a você, comece esse processo e dê a si mesma a segunda chance que deu a tantas pessoas. Você merece e deve isso a si.
Eu não vou mentir para você dizendo que as coisas vão se ajeitar do dia para a noite, que um belo dia você vai acordar com a mente e o coração esclarecidos. Também não vou dizer que vai ser algo mágico e belo. O que posso afirmar é que essa é uma decisão diário de amor, perdão e acolhimento com dias ensolarados, nublados e tempestuosos. Nos dias que as coisas ficarem mais difíceis, lembre-se de respirar e continuar a jornada. Lembre-se também que as coisas mudaram, que você mudou e isso não é tão ruim quanto você pensa nesse momento. Toda mudança gera bagunça e toda bagunça leva tempo para ser organizada, seja paciente. Vá no seu tempo, mas vá. Recrie-se de forma honesta, sem máscaras, sem fantasias. Abrace sua história.
Ouça a canção "Angel" de Saral McLachan



